Ambiente corporativo ainda falha em promover equidade para as mulheres

Pesquisa da Deloitte destaca como o ambiente corporativo ainda falha em seus objetivos de igualdade de gênero no Brasil e no mundo

A experiência profissional das mulheres, inclusive no Brasil, ainda não atende plenamente às expectativas em termos de inclusão e saúde, conforme indicado pela pesquisa global “Women @ Work 2023”, da Deloitte. Globalmente, houve uma redução no número de mulheres que relatam sentir esgotamento, com cerca de 30% mencionando essa sensação, tanto no Brasil quanto em outras regiões, em comparação a 46% na pesquisa anterior. No entanto, mais da metade das entrevistadas ainda enfrenta altos níveis de estresse, representando uma elevação em relação ao ano passado para mais de metade da amostra. 

O estudo também revela os principais motivos que levaram as mulheres à demissão, que este ano marca a porcentagem de 17% das brasileiras, número similar a amostra global (18%). No Brasil, remuneração (27%) e falta de oportunidades de ascensão e de aprendizado (13%) foram fatores decisivos para o desligamento. Na amostra global, os dois principais motivos foram remuneração (18%) e falta de flexibilidade (14%). 

“Embora a atual edição de nossa pesquisa mostre alguns vislumbres de melhoria para as mulheres no local de trabalho, também ilumina o quanto resta fazer”, diz Emma Codd, líder global de inclusão da Deloitte. “Houve piora no que diz respeito a aspectos críticos do local de trabalho, como suporte à saúde mental. E a grande maioria das entrevistadas não acredita que seu empregador esteja tomando medidas concretas para cumprir seus compromissos com igualdade de gênero. Os empregadores devem ir além do estabelecimento de metas e políticas e promover consistentemente um ambiente de trabalho mais inclusivo e respeitoso, onde todas as mulheres possam ter sucesso”. 

SAÚDE MENTAL 

Na pesquisa realizada entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, foram ouvidas 5 mil mulheres em dez países, incluindo 500 no Brasil. Os resultados revelam que cerca de 40% das mulheres brasileiras avaliam sua saúde mental como boa ou muito boa, e apenas 35% delas acreditam que recebem o suporte de saúde mental adequado. O número piora em grupos étnicos minoritários, nos quais uma em cada quatro (26%) dizem sentir-se à vontade para falar sobre saúde mental no local de trabalho e indicam que recebem apoio adequado neste quesito de seus empregadores. 

Outro dado preocupante é que uma a cada cinco mulheres entrevistadas no Brasil relatou problemas de saúde relacionados à menstruação ou à menopausa. Metade das que sofrem dos sintomas da menstruação e 16% das que sofrem pela menopausa afirmaram que trabalham mesmo diante de dores e outros sintomas. A minoria destas profissionais pede dias de folga para lidar com as dores, muitas vezes sem mencionar os motivos. 

Em contrapartida, mais da metade das mulheres no Brasil acredita que é importante que as empresas ofereçam licença remunerada para sintomas relacionados à menstruação (57%) e à menopausa (52%). 

AMBIENTES NÃO INCLUSIVOS 

Em consonância com os resultados globais, o número de mulheres no Brasil que reportaram ter vivenciado comportamentos não inclusivos diminuiu, passando de 60% na edição anterior para 47%. Ainda assim, mais da metade das mulheres no país relatam ter oficialmente comunicado situações não inclusivas em seus ambientes de trabalho. Além disso, cerca de 34% não recomendariam suas organizações como excelentes locais de trabalho. 

Embora tenha havido uma queda no percentual de mulheres no Brasil que relataram ter experienciado comportamentos não inclusivos, ainda é preocupante que mais da metade delas tenha oficialmente reportado essas situações em seus locais de trabalho. Um exemplo comum é quando outras pessoas tomam crédito por suas ideias (23%). Mulheres pertencentes a grupos étnicos minoritários no Brasil são mais propensas a vivenciar esse comportamento (44%) em comparação à média geral brasileira (23%) e à média global (15%). 

Quando perguntadas sobre as principais questões que as preocupam fora do ambiente de trabalho, as brasileiras citaram os direitos das mulheres (62%), seguido por saúde física e mental (ambos com 56%) e segurança financeira (55%). A maioria das participantes (94%) sentem que sua organização não está dando passos concretos para cumprir seu compromisso com a diversidade de gênero e quase 60% dizem que sua organização não se posiciona em questões políticas e sociais que são importantes para elas. Além disso, mais da metade (53%) diz que o compromisso de sua empresa em apoiar as mulheres não aumentou desde o ano passado. 

TRABALHO HÍBRIDO 

O desafio do trabalho híbrido também persiste, afetando as escolhas de carreira. A sensação de exclusão em reuniões ainda é relatada por 48% das mulheres brasileiras, apesar de uma redução em relação ao ano anterior (57%). Além disso, a falta de exposição aos líderes seniores aumentou ligeiramente, atingindo 38%. Uma nova preocupação é a falta de um padrão de trabalho previsível, que subiu de 7% para 40%. 

Na percepção das entrevistadas em geral, porém, o trabalho flexível não é bem-visto nas organizações onde trabalham. Quase a totalidade das profissionais brasileiras (96%) acredita que solicitar ou aproveitar o trabalho flexível afetaria a probabilidade de uma promoção e 95% acham que é improvável que seu volume de trabalho seja ajustado de acordo com um regime flexível. Isso acontece mesmo no cenário onde 83% das profissionais com maior flexibilidade classificaram sua produtividade como boa ou muito boa. 

ECONOMIA DO CUIDADO 

Em relação às questões domésticas, as mulheres no Brasil, assim como em todo o mundo, muitas vezes assumem a maior parte das tarefas, como cuidar dos filhos (58%) e realizar tarefas domésticas (51%). Em relação ao envolvimento das outras partes, menos de um terço das brasileiras dividem os cuidados dos filhos com seus parceiros e 16% compartilham as tarefas de casa da mesma forma. Além disso, três quartos (76%) das mulheres no Brasil afirmam que seus parceiros são a principal fonte de renda da casa. 

O estudo também destaca que mulheres de grupos minoritários sofrem ainda mais com a sobrecarga de tarefas, e que muitas vezes, priorizam as carreiras de seus parceiros homens em detrimento das suas, justamente porque ganham mais. De modo geral, a atual edição destaca que mulheres em grupos sub-representados enfrentam desafios mais significativos do que a amostra geral quando se trata de saúde mental, comportamentos não inclusivos, equilíbrio trabalho/vida pessoal e esgotamento. 

ENTRE ACERTOS E ATRASOS 

Apesar dos avanços que precisam acontecer em relação à diversidade de gênero nas empresas, a pesquisa da Deloitte identificou um grupo de “Líderes de Igualdade de Gênero”, organizações que, de acordo com as mulheres pesquisadas, criaram culturas genuinamente inclusivas que apoiam suas carreiras, equilíbrio entre vida profissional e pessoal e promovem a inclusão. A proporção de mulheres trabalhando para empresas assim ainda é de 5% globalmente e 3% no Brasil.  

Por outro lado, foi identificado um grupo de organizações atrasadas nesse quesito. As mulheres que trabalham para essas empresas indicam que têm uma cultura menos inclusiva e de baixa confiança. Este ano, 24% das entrevistadas globais e 26% das brasileiras trabalham para essas organizações. Mulheres que trabalham para líderes de igualdade de gênero relatam níveis muito mais altos de bem-estar e satisfação no trabalho. 

“As descobertas anteriores de nossa pesquisa foram dominadas pelo impacto negativo da pandemia na rotina das profissionais, juntamente com o aumento da exposição a comportamentos não inclusivos, esgotamento e os desafios diversos do trabalho híbrido. Esta é uma questão cada vez mais crítica, em geral, e, felizmente, o cenário tem melhorado. No entanto, ainda estamos consideravelmente longe do ideal. É preciso apostar cada vez mais nas mulheres em todos os âmbitos, criando culturas genuinamente inclusivas, que garantam apoio ao desenvolvimento da carreira, equilíbrio entre vida profissional e pessoal e promoção da inclusão” afirma Aline Vieira, líder do programa Delas da Deloitte. 

Fonte: M&M

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